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Editorial

Radiação ultravioleta: riscos oculares e prevenção

Ultraviolet radiation: ocular risks and prevention

Radiación ultravioleta: riesgos oculares y prevención

Milton Ruiz Alves

DOI: 10.17545/eoftalmo/2019.0001

A luz é a força que move a vida, desde a função mais básica de produzir energia nas células até a viabilização de processos altamente sofisticados em formas de vida inteligentes1. Essencial para o funcionamento da visão, a luz representa uma dicotomia inesperada para os olhos, pois a luz pode ser tanto benéfica quanto prejudicial a estes1.

A radiação solar consiste de radiação eletromagnética na faixa que vai do ultravioleta (UV) até o infravermelho (IV)2. A radiação UV (RUV) compreende os comprimentos de onda entre aproximadamente 200 nanômetros (nm) até 400 nm2. Embora uma pequena quantidade de RUV se origine de fontes artificiais, a maior parte da RUV à qual as pessoas se expõem vem do sol, por uma larga margem1. A RUV é arbitrariamente dividida em três bandas de diferentes comprimentos de onda: UVA (400–320 nm), UVB (320–290 nm) e UVC (290–200 nm)3. A radiação UVC é totalmente absorvida pelo ozônio atmosférico4. Assim, a RUV solar de importância para a saúde humana consiste em UVA e UVB4.

Os comprimentos de onda de UV abaixo de 300 nm são absorvidos pela córnea5 e aqueles entre 300 nm e 400 nm são predominantemente atenuados pelo cristalino5,6. Este sofre alterações na sua absorbância de UV em função do envelhecimento: à medida que o cristalino se torna mais amarelado com a idade, aumenta a absorção de UV7. Desta forma, enquanto cristalinos mais jovens podem transmitir comprimentos de onda mais curtos, até de 300 nm, o cristalino adulto absorve quase todos os comprimentos de onda até 400 nm8,9. Em crianças abaixo dos 10 anos, o cristalino transmite 75% da RUV; em adultos acima dos 25 anos, a transmissão de UV através do cristalino cai para 10%10,11.

Assim sendo, não chega a surpreender que as afecções oculares mais comuns associadas à exposição à RUV acometem as pálpebras (rugas, queimaduras solares, reações de fotossensibilidade e tumores malignos, como o carcinoma basocelular e o de células escamosas), a superfície ocular (pinguécula, pterígio, ceratopatia climática, ceratite, displasia e tumores malignos da córnea ou da conjuntiva), o cristalino (catarata cortical), a úvea (melanoma, dispersão pigmentar, uveíte e incompetência da barreira hemato-ocular), o humor vítreo (liquefação) e a retina (possivelmente, a degeneração macular relacionada à idade)12.

A relação entre os efeitos nocivos e a exposição à RUV apresenta o maior risco na faixa do espectro entre 300 nm e 320 nm, com o pico em 310 nm. A proteção dos olhos contra os riscos da RUV deve incluir os comprimentos de onda entre 300 nm e 380 nm12. A RUV atinge os olhos não somente de cima, vinda do céu, mas também a partir de reflexos do solo, água, areia e superfícies brilhantes13. Pode-se obter uma boa proteção contra a RUV usando-se tanto um chapéu ou boné com aba quanto óculos com filtragem UV13. Um chapéu ou boné com aba bloqueia aproximadamente 50% da RUV e reduz a radiação que pode entrar acima ou em volta dos óculos13. Óculos com filtragem RUV oferecem o maior grau de proteção UV, especialmente se tiverem um design envolvente que limite a entrada de raios periféricos. O ideal seria que todos os tipos de óculos, até mesmo os de receituário, filtrassem todo o espectro UV (UVB e UVA)13. A filtragem UV pode ser incorporada a quase todos os materiais ópticos em uso atualmente, é barata e não interfere na visão13. O grau de proteção UV não está relacionado ao preço13. A polarização e o escurecimento fotossensível são recursos adicionais dos óculos de sol que são úteis em certas situações visuais, mas não proporcionam proteção UV por si sós13.

Em contraste com conhecimento que os profissionais têm a respeito dos riscos oculares da RUV, o conhecimento do público sobre a proteção aos olhos é pouco quando comparado à mensagem que recebe sobre a proteção da pele12. Uma pesquisa constatou que embora dois terços dos americanos tivessem consciência da necessidade de proteger os olhos quando se passa um tempo prolongado sob o sol, apenas 29% dos pais tinham a preocupação de fazer com que seus filhos usassem óculos de sol em ambientes externos14. Por definição e utilização, lentes solares são feitas exclusivamente para uso em ambientes externos15. Os dermatologistas educam seus pacientes todos os dias a respeito dos riscos da RUV para a pele sem jamais mencionarem a necessidade de igual proteção para os olhos16.

A prevenção de danos oculares pela RUV envolve a educação do público e dos profissionais de saúde ocular12. A educação do público é a pedra fundamental de qualquer esforço sério para reduzir os efeitos da RUV na saúde dos olhos, porque a implementação de meios de proteção ocular é, em última instância, uma questão de o que cada pessoa faz todos os dias - isto é, de ter o hábito de usar óculos com proteção UV em situações da vida real12.

 

REFERÊNCIAS

1. Barrau C, Kudla A, Tessieres M. Eye Protect SystemTM Lenses: from research to harfmull light filtering. Disponível em: https://www.pointsdevue.com/sites/default/files/eye-protect-system-lenses-whitepaper.pdf Acessado em20/03/2019. Acessado em 05/02/2019.

2. Yossef PN, Sheibani N, Albert DM, Retinal light toxicity. Eye 2011; 25(1):1-14.

3. Diffey BL Sources and measurement of ultraviolet radiation. Methods. 2002; 28 (1): 4-13.

4. Lucas R, McMichael T, Smith W, Armstrong B. Solar Ultraviolet Radiation. Global burden of disease from solar ultraviolet radiation. Disponível em: https://www.who.int/uv/health/solaruvrad.pdf. Acessado em 05/02/2019.

5. Boettner EA, Walter JR. Transmission of the ocular media. Invest Ophthalmol Vis Sci 1962; 1:766-83.

6. Norren DV, Vos JJ. Spectral transmission of the human ocular media. 1974; 14(11);1237-44.

7. Kolozsvári L, Nógrádi A, Hopp B et al. UV absorbance of the human cornea in the 240 to 400 nm range. Invest Ophthalmol Vis Sci 202; 43(7):2165-8.

8. Cooper G, Robson J. The yellow color of the lens of man and other primates. J Physiol 1969; 203:411-17.

9. Lerman S. Chemical and physical properties of the normal and aging lens: spectroscopic (UV, fluorescence, phosphorescence, and NMR) analyses. Am J Optom Physiol Opt 1987; 64:11-22.

10. Fishman GA. Ocular toxicity: guidelines for selecting sunglasses, In: Perspectives in refraction. Rubin ML, ed, Surv Ophthalmol 1986; 31:119-24.

11. Werner JS. Children’s sunglasses: cavear emptor. Opt Vis Sci 1991; 68:31820.

12. Andre B, Bergmanson J, Butler JJ et al, The eye and solar ultraviolet radiation. New understandings of the hazards, costs and prevention of morbidity. Disponível em: In https://www.pointsdevue.com/sites/default/files/-BlueLight-E-book-edition-2-web.pdf. Acessado em 05/02/2019.

13. Ocular Ultraviolet Radiation Hazards in Sunlight. A Cooperative Initiative of the National Society to Prevent Blindness, The American Optometric Association and the American Academy of Ophthalmology. Disponível em: https://www.aoa.org/Documents/optometrists/ocular-ultraviolet.pdf. Acessado em 05/02/2019.

14. AOA American Eye-Q® survey 2009. Disponível em: http://michigan.aoa.org/documents/American_Eye-Q_Executive_Summary_2009.pdf. Acessado em 05/02/2019.

15. Sliney DH. Photoprotection of the eye-UV radiation and sunglasses. Phtochem Photobiol 2005; 81:483-85.

16. Wang SQ, Balagula Y, Osterwalder U. Photoprotection: a review of the current and future technologies. Dermatol Ther 2010; 23(1):31-47.

 

Financiamento: Declaram não haver

Conflitos de interesse: Declaram não haver

Recebido em: 21 de Março de 2019.
Aceito em: 22 de Março de 2019.


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