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Editorial

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Harley E. A. Bicas

DOI: 10.17545/eoftalmo/2019.0011

Entre os vários sinais marcantes de nossos tempos, o da inversão da pirâmide demográfica --- cujas causas são discutidas por sociólogos, antropólogos, economistas, historiadores, agentes políticos e outros --- compromete, em suas consequências, todos os segmentos da sociedade humana. Presentemente, por exemplo, vivenciamos (no Brasil, mas não apenas aqui), turbulências relativas às estabilidades dos sistemas das “previdências sociais”. Coletivamente, o aumento da população mais velha proporciona reverentes ajustamentos (os “assentos preferenciais”, “vagas para idosos”, “casas de repouso”, etc.). Por outro lado, no aspecto singular ocorre uma curiosa bipolaridade. Pessoas, geralmente, desejam viver mais (e a ciência tem provido meios para que isso seja atingido) mas temem envelhecer, pois de desgastes físicos são (por enquanto) ainda inescapáveis. Assim, a Medicina que proporciona o prolongamento da vida vê, também, aparecerem suas consequências (cataratas, artroses, etc.) e, pois, como “responsável” por elas, deve lhes dar atenção. E o faz quando se antecipa às suas ocorrências para, se não possível evitá-las, postergá-las ainda mais, minorá-las, corrigi-las. Daí a, relativamente nova, Oftalmogeriatria com seus cuidados e um tema ao qual todos devemos nos preparar. Como médicos e como pacientes...

Este número da eOftalmo é uma resultante dessas tendências dos “novos tempos”. Não como propósito editorial, mas como simples decorrência de tais necessárias “atualizações”, três de seus artigos examinam problemas concernentes a pessoas mais idosas, principal e coincidentemente porque cada vez mais frequentes nos consultórios oftalmológicos. Apresenta-se uma revisão da literatura sobre macroaneurismas arteriais da retina (preponderantemente do lado temporal, mais em mulheres, relacionados à hipertensão arterial sistêmica e à “terceira” idade), produtores de hemorragias (retínicas e, ou vítreas).

Outra matéria dedica-se (quadro clínico, etiologia, diagnósticos diferenciais e tratamento) a estrabismos (esotropias com ângulo de desvio maior para longe que para perto) com aparecimento maior na sétima ou oitava décadas da vida e incidência progressivamente crescente, relacionados à involução de músculos oculares externos e estruturas perioculares.

Embora também afetando pessoas mais jovens, mas com efeitos cumulativos associados ao aumento da idade, o diabetes é importantíssima causa de perdas visuais (e da função de outros órgãos) e assunto de uma interessante pesquisa (e denúncia) sobre o reconhecimento da retinopatia relacionada a essa doença. O estudo constou de entrevistas a membros (nove médicos, oito enfermeiras, 27 agentes comunitários) das equipes de Estratégia da Saúde da Família em duas cidades brasileiras, com diferentes índices de desenvolvimento humano, mostrando que “os profissionais ouvidos nesta pesquisa demonstram pouco ou nenhum conhecimento sobre como proceder com pacientes diabéticos em relação à RD, seu diagnóstico, tratamento e seguimento”.

Na Sessão de Casos Clínicos Discutidos, oferece-se o estudo retrospectivo de 134 pacientes com acidentes por corpos estranhos corneais indicando, majoritariamente, o acometimento em homens (94,78%) e mais na faixa etária dos 19 aos 35 anos. Também aqui, ressalte-se o inquietante relato do grande número de acidentes ocorridos por falta de uso de equipamentos de proteção, apesar de suas disponibilidades, a falta de atendimento nas primeiras 24 horas (67 dos 134 casos), a tentativa de remoção do corpo estranho por meios próprios (42/134 dos acidentados) e a recorrência do acidente (em 56/134 deles).

Nos relatos de casos clínicos, um descreve a doença inflamatória orbitária associada ao aumento do IgG4, cujo reconhecimento é recente e com patogenia ainda não totalmente compreendida. Outro aborda a ceratite fúngica (confirmada por exame anatomopatológico da córnea, após transplante. Mas cuja etiologia foi negada em exame de cultura solicitado no início do atendimento, e sem boa resposta ao tratamento clínico farmacológico específico, instituído no 11° dia --- por hipótese diagnóstica, pela história clínica apresentada.)

Enfim, leituras que trazem ensinamentos importantes, apontam caminhos, trazem inquietações, fazem pensar.

 

Financiamento: Declaram não haver

Conflitos de interesse: Declaram não haver

Recebido em: 17 de Junho de 2019.
Aceito em: 20 de Junho de 2019.


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