Frederico Castelo Moura
DOI: 10.17545/e-oftalmo.cbo/2015.30
O artigo1 aqui comentado faz uma breve revisão histórica da neuromielite óptica (NMO) e mostra as mudanças que ocorreram no critério de diagnóstico nas últimas décadas, inclusive a descoberta do anticorpo anti-aquaporina 4 (AQP-4) e a introdução do conceito de espectro da NMO. É fundamental que os oftalmologistas conheçam essas mudanças tendo em vista que uma das formas do espectro da NMO é a neurite óptica atípica e que na maioria das vezes esse paciente procura inicialmente assistência oftalmológica.
O conceito clássico da NMO (ou doença de Devic) era considerá-la uma variante da esclerose múltipla (EM) caracterizada por mielite e neurite óptica bilateral concomitante ou em curto intervalo de tempo, associada à perda visual grave e com menor chance de recuperação visual do que a neurite óptica típica associada à EM.2 Entretanto, outros pacientes com NMO se apresentavam de forma diferente com neurite óptica unilateral, sem perda visual grave e crises recorrentes.2 Assim, o diagnóstico definitivo da NMO era difícil diante dessa variabilidade clínica e também devido à falta de um exame laboratorial específico.
A descoberta do AQP-4 nos pacientes com NMO em 20043 preencheu essa lacuna laboratorial no critério diagnóstico e forneceu informações valiosas sobre a fisiopatogenia. Além disso, introduziu o conceito de espectro clínico da NMO com a existência de formas limitadas da doença, entre elas a neurite óptica isolada, sem mielite.4
No artigo aqui comentado1, os autores propõem o termo “espectro ampliado da neuromielite óptica” (EANMO) com intuito de incluir outras formas limitadas da NMO mesmo nos pacientes com AQP-4 negativo. Entre elas, incluem as crises de neurite óptica (sem mielite) que apresentam características atípicas como perda visual pior que 20/400 e ausencia de recuperação visual, além do acometimento bilateral concomitante ou crises recorrentes. Os autores sugerem que a presença de lesões típicas da NMO na ressonância magnética de crânio pode ser usada como critério alternativo ao anticorpo nos pacientes com AQP-4 negativo. Por outro lado, é necessário um julgamento diagnóstico crítico com o intuito de descartar EM e outras condições relacionadas em todos os pacientes com suspeita de NMO.
A mensagem final dos autores é alertar sobre a importância de reconhecer as formas limitadas da NMO (como a neurite óptica atípica) a fim de favorecer o diagnóstico precoce e consequentemente o tratamento imunossupressor adequado, que diminuiria o risco de recorrências e seqüelas visuais e neurológica.
REFERÊNCIAS
1 Lana-Peixoto MA, Callegaro D. The expanded spectrum of neuromyelitis optica: evidences for a new definition. Arq Neuropsiquiatr 2012;70(10):807-13. http://dx.doi.org/10.1590/S0004-282X2012001000010
2 Wingerchuk DM, Hogancamp WF, O'Brien PC, Weinshenker BG. The clinical course of neuromyelitis optica (Devic's syndrome). Neurology 1999;53(5):1107-14. http://dx.doi.org/10.1212/WNL.53.5.1107
3 Lennon VA, Wingerchuk DM, Kryzer TJ, Pittock SJ, Lucchinetti OF, Fujihara K, Nakashima I, Weinshenker BG. A serum autoantibody marker of neuromyelitis optica: distinction from multiple sclerosis. Lancet 2004;364(9451):2106-12. http://dx.doi.org/10.1016/S0140-6736(04)17551-X
4 Wingerchuk DM, Lennon VA, Lucchinetti OF, Pittock SJ, Weinshenker BG. The spectrum of neuromyelitis optica. Lancet Neurol 2007;6(9):805-15. http://dx.doi.org/10.1016/S1474-4422(07)70216-8
Fonte de financiamento: declaram não haver.
Conflito de interesses: declaram não haver.
Recebido em:
30 de Julho de 2015.
Aceito em:
5 de Agosto de 2015.