Leonardo E. Ariello; Mário L. R. Monteiro
DOI: 10.17545/eOftalmo/2024.0002
Este artigo pertence à Edição Especial Edição especial Neuro
Neurite óptica (NO) é uma doença inflamatória aguda do nervo óptico que pode ocorrer de forma isolada ou associada a outras doenças desmielinizantes do sistema nervoso central, como neuromielite óptica (NMO), doença associada a glicoproteína da mielina do oligodendrócito (MOGAD) e mais frequentemente a esclerose múltipla (EM). O diagnostico atual da neurite óptica envolve dados clínicos e exames complementares dentre eles as imagens por ressonância magnética (IRM)1. Neste trabalho, mostramos o papel e a importância da RNM, não apenas para o diagnóstico das NO, mas como auxílio na diferenciação da neurite óptica isolada de outras doenças desmielinizantes do sistema nervoso central.
A NO ocorre tipicamente em adultos jovens do sexo feminino. A perda da acuidade visual geralmente é acentuada e progressiva ao longo de dias, com nadir entre 20/40 e conta dedos. Dor periocular que piora à movimentação ocular e precede a perda visual é relatada em 90% dos casos. As pupilas são isocóricas, mas observa-se um defeito aferente no olho acometido. O fundo de olho pode mostrar edema de papila, mas pode também ser inteiramente normal, no caso da neurite retrobulbar. A perimetria classicamente revela um escotoma central ou cecocentral como o evidenciado na Figura 1, numa paciente com NO e acuidade visual de conta dedos no OD. Os exames sorológicos na maioria das vezes são normais e líquido cefalorraquidiano pode evidenciar discreto aumento da celularidade e presença de bandas oligoclonais em pacientes com EM. A IRM de órbitas geralmente mostra hipersinal nas sequências T2 nas porções orbitárias e pré-quiasmáticas do nervo óptico, associada a realce pelo meio de contraste (Figura 2A, lado direito). A IRM de encéfalo é importante para mostrar lesões com hipersinal em T2 justacorticais com focos de hipersinal na junção calososseptal (Figura 2B). No exemplo acima, feito o diagnóstico de NO a direita e observados sinais de doença desmielinizante multifásica foi iniciada pulsoterapia com metilprednisolona 1 grama/dia por via endovenosa, por 5 dias. Houve boa evolução com melhora importante da acuidade visual do OD até 20/25.
O diagnóstico atual da NO envolve dados clínicos e de exames complementares2. Dentre estes, destacamos o papel central da IRM que permite com sensibilidade de 95%, detectar o processo inflamatório do nervo óptico3. Além disso, a distribuição, extensão e aparência do processo inflamatório do nervo óptico e órbita são critérios avaliados em conjunto que ajudam no diferencial das NO.
Por exemplo, sabemos que o acometimento bilateral dos nervos ópticos é mais comum na NMO e MOGAD do que na EM. Lesões que envolvem o quiasma óptico e trato óptico são mais vistos na NMO. Neurites longitudinalmente extensas, caracterizadas por acometimento maior que 50% do nervo óptico são mais frequentes na NMO e MOGAD. O envolvimento perineural do nervo óptico, ou seja, perineurite, é mais típico na MOGAD4,5.
Em conclusão, os avanços nas técnicas de imagem como a IRM tornaram essa modalidade fundamental na propedêutica das neurites ópticas. Com alta sensibilidade, a IRM vai além do diagnóstico de neurite óptica, auxiliando no diferencial das doenças desmielinizantes, com impacto em prognóstico e tratamento.
REFERÊNCIAS
1. Bennett JL. Optic Neuritis. Continuum (Minneap Minn). 2019; 25(5):1236-1264.
2. Petzold A, Fraser CL, Abegg M, Alroughani R, Alroughani D, Alvarenga R, et al. Diagnosis and classification of optic neuritis. Lancet Neurol. 2022;21(12):1120-1134.
3. Kupersmith MJ, Alban T, Zeiffer B, Lefton D. Contrast-enhanced MRI in acute optic neuritis: relationship to visual performance. Brain. 2002 Apr;125(Pt 4):812-822.
4. Ramanathan S, Prelog K, Barnes EH, Tantsis EM, Reddel SW, Henderson APD, et al. Radiological differentiation of optic neuritis with myelin oligodendrocyte glycoprotein antibodies, aquaporin-4 antibodies, and multiple sclerosis. Mult Scler. 2016;22(4):470-482.
5. Akaishi T, Sato DK, Nakashima I, Takeshita T, Takahashi T, Doi H, et al. MRI and retinal abnormalities in isolated optic neuritis with myelin oligodendrocyte glycoprotein and aquaporin-4 antibodies: a comparative study. J Neurol Neurosurg Psychiatry. 2016;87(4):446-448.
INFORMAÇÃO DOS AUTORES |
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» Mario Luiz Ribeiro Monteiro https://orcid.org/0000-0002-7281-2791 http://lattes.cnpq.br/283589747518026 | |
» Leonardo Eleuterio Ariello https://orcid.org/0000-0002-7031-2419 http://lattes.cnpq.br/1417602536827866 |
Financiamento: Declaram não haver.
Conflitos de Interesse: Declaram não haver.
Recebido em:
17 de Outubro de 2023.
Aceito em:
30 de Outubro de 2023.